Millenium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres - Literatura e Adaptações

Millenium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Li Os Homens Que Não Amavam As Mulheres em setembro de 2010 e, como a maioria dos leitores, fui arrebatado pela narrativa e pelos personagens de Stieg Larsson. Assisti à adaptação americana do livro, de David Fincher, em 30 de janeiro deste ano. E, por fim, assisti à versão sueca, lançada em 2009, no dia seguinte. Excelentes adaptações de um excelente livro.

Bom, inicialmente, não consigo chamar a versão hollywoodiana de remake do filme sueco, tendo em vista que é perceptível que o Fincher se baseou diretamente no livro para fazer o filme. Talvez tenha visto o sueco para saber onde Niels Arden Oplev errou na sua versão, mas tirando isso, você percebe que Fincher não quis fazer uma refilmagem da versão sueca, e sim uma versão própria. Existem omissões que podem incomodar fãs mais ferrenhos, como o fato do final não ser idêntico ao do livro, mas são diferenças tão insignificantes que só servem para nos poupar de cenas desnecessárias.

"Lisbeth, versão americana e sueca"

A história de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres começa nos mostrando o prólogo do livro de forma que temos uma prévia de que Fincher pretender ser o mais fiel possível ao roteiro original. Daí começam os créditos iniciais com um clipe sombrio e pesado de Immigrant Song do Led Zeppelin na voz de Karen O, vocal do Yeah Yeah Yeahs. Fim dos créditos, o filme parte para mostrar o jornalista e editor da revista Millennium, Mikael Blomkvist, que acabou de ser condenado por ter publicado, sem mostrar provas, uma matéria em sua revista acusando um grande empresário, Hans-Erik Wennerstrom, de cometer vários crimes para construir seu império. Estando vulnerável à imprensa e com sua revista perdendo a credibilidade, Mikael recebe uma proposta de Henrik Vanger para investigar sua família e descobrir quem matou sua sobrinha Harriet Vanger. Crime que ocorreu há mais de 40 anos e que os principais suspeitos são a própria família Vanger. Mikael reluta, mas depois de Henrik Vanger lhe oferecer provas contra Wennerstrom, aceita o trabalho.


Essa história seria um suspense policial comum, com uma investigação, pistas descobertas, listas de suspeitos e tal, se não fosse pela estrela do filme: a Lisbeth Salander de Rooney Mara. Sempre que a trama de Mikael entra em stand-by e Lisbeth entra em cena, você espera uma coisa surpreendente. Pequena. Frágil. Vulnerável. Freak. São adjetivos compatíveis com a aparência de Lisbeth. Diagnosticada pelo Estado como psicologicamente incapaz, mesmo franzina, ela guarda uma fúria absurda, e vive sempre com um comportamento ora indiferente, ora hostil. Ela entra na história após ter feito uma pesquisa solicitada por Dirch Frode, advogado de Henrik Vanger, acerca de Mikael antes de tê-lo contratado. E ela segue no filme com uma trama a parte do arco principal: seu tutor, Holger Palmgrem, sofre um derrame e precisa ser substituído por um outro, Nils Bjurman, que é ,de longe, o mais asqueroso personagem de toda a trilogia.  Acontece que, enquanto Palmgrem concedia liberdade utilizar seu dinheiro, Bjurman bloqueia sua conta e restringe o uso de seu dinheiro à aluguel e comida, qualquer uso além disso deve ser autorizado por seu novo tutor. E quando ela precisa de dinheiro, seu tutor aproveita a situação para abusar sexualmente dela. As cenas são repulsivas, tanto o sexo oral quanto o estupro, causa ânsias. Mas a cena em que Lisbeth dá o troco, é tão memorável quanto no livro, Fincher captou, ou melhor, Rooney Mara interpretou perfeitamente a sensação de superioridade e ao mesmo tempo repugnância de Lisbeth ao se vingar do Porco Sádico Estuprador.


Fecha-se o arco próprio de Lisbeth Salander. Voltamos à investigação de Mikael, encontramos novas pistas que a polícia deixou passar, descobrimos outros assassinatos contra mulheres interligados, temos uma lista de suspeitos tomando forma, até que o jornalista empaca e precisa de um assistente. Procura Frode, que lhe mostra o dossiê feito por Lisbeth, e a recomenda para ajudá-lo. Impagável a cena em que Mikael entra todo cheio de intimidade no apartamento de Lisbeth, exatamente como imaginei no livro. Já me delonguei demais, vou resumir um pouco as coisas... Lisbeth aceita ajudá-lo a pegar o assassino de mulheres. A química entre Daniel Craig e Rooney Mara em cena é incrível, de modo que a relação de amizade de um pelo outro é algo que surge naturalmente, tal como no livro. O que se segue é uma busca implacável ao homem que odeia as mulheres, numa sequência de investigação de botar inveja nos melhores detetives do mundo. O final da investigação nos leva mesmo a um Vanger e a história do assassinato de Harriet termina. Não vou spoilar o desfecho da história, mas vale dizer que é tudo muito fiel ao livro. Exceto por um detalhe.


Os Homens Que Não Amavam As Mulheres é um ótimo filme para quem já leu o livro, talvez seja maçante para quem não o leu. Afinal, ficar mais de duas horas no cinema, por mais que a história seja envolvente, não é fácil. A adaptação de David Fincher consegue trazer toda a essência da história do primeiro volume Best-seller de Stieg Larsson, destacando pontos cruciais para o entendimento da personalidade dos protagonistas.

Por fim, por mais que David Fincher tenha sido mais que competente na adaptação do Best-seller, essa sua produção será lembrada não por seu talento na direção, mas sim como o filme que elevou Rooney Mara ao alto escalão de atrizes.

Texto por @VicMoraes

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