Idiomas e o preconceito

Idiomas e o preconceito

- Você devia assistir 'Oldboy'. O filme tem um roteiro muito bom.
- Sério?
- Sim, cheio de reviravoltas, e é bem forte.
- Quem é o diretor?
- Chan Wook Park. É coreano.
- Deus me livre de você com esses filmes asiáticos!

Quantas vezes, com devidas variações, você já passou por esse tipo de conversa? É íncrivel como ainda existe esse tipo de preconceito em relação ao idioma. Uma pessoa que cria uma antipatia gratuita antes mesmo de assistir ao filme não deve se vangloriar de ser fã de cinema; é no máximo pseudo-intelectual, ao se dizer fã de Fellini, Truffaut, e/ou Almodóvar; e como um boçal, cria uma barreira com outro tipo de idioma, apenas, por puro preconceito.


Preconceito de achar que todo filme asiático é sobre samurais voadores, preconceito de achar que todo filme indiano é um musical com personagens estereotipados, preconceito de achar que todo filme argentino é sobre o Maradona (ou tango), é o preconceito de achar que todo filme espanhol é sobre touradas.
Afinal, se a lingua espanhola é digna de um filme de Almodóvar, porque essa mesma lingua espanhola não é digna de um filme do Mexico, Chile ou Paraguai? São coisas difíceis de se entender.
Oras, uma vez que o filme está legendado, qual a diferença do idioma falado? A quantidade de cultura que perdemos ao deixar o preconceito tomar conta de nossa mente é vergonhosa.

Sou um dos que tem dificuldade em gostar de filmes nacionais, confesso; mas isso não me faz pensar que só se faz filme sobre favela no Brasil. Sei que ótimos filmes são feitos, mas nem sempre conseguem chegar ao grande público dos cinemas. Do mesmo jeito, a tevê, ao seu modo, só se atreve a colocar filmes asiáticos estereotipados, mentirosos, cheios de efeitos e repletos de ação e diversão, assim, acostumando o grande público a criar esse tipo de preconceito.


Imagine que, por culpa desse preconceito imbecil, uma pessoa deixa de conhecer ótimos diretores asiáticos como Chan Wook Park e a sua trilogia da vingança, que é amada por nós e um certo Tarantino, Miike Takashi, que com a sua beleza visual e violência épica conseguiu ganhar fãs do naipe do já citado Quentin Tarantino, a delicadeza de Ki-Duk Kim em Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera, e ninguém menos que o genial Akira Kurosawa, que possui fãs como Coppola, Scorsese e George Lucas.

Citei como exemplo mais filmes asiáticos pois foi um dos gêneros que assisti por último, mas esse texto serve para qualquer tipo de preconceito de idioma. Largue de ser "o foda" (leia-se: pseudo-cult) e abra sua mente para cinema de qualidade, seja ele, alemão, francês, iraniano, chinês, turco ou de marte.

William Bruno: outsider. [Twitter] [Facebook]

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